A
HISTÓRIA DA OCEANOGRAFIA NO BRASIL
Logo
após a descoberta do Brasil, seu território já
começou a ser representado em cartas náuticas ou constou
de portulanos (espécie de roteiro náutico) que permitiram
aos colonizadores retornarem aos locais desejados da costa. Assim,
pode-se afirmar que Oceanografia brasileira iniciou-se com a cartografia.
Em 1500 já aparecia a representação de um trecho
do litoral brasileiro em desenho de Juan de la Cosa; 2 anos depois,
o país aparece representado no planisfério de Cantino
e, em 1508 o roteiro de Duarte Pacheco Pereira, traz valiosas informações
sobre a costa do Brasil(1).
As
primeiras pesquisas sobre organismos marinhos iniciaram-se por volta
da primeira metade do século passado, principalmente através
de naturalistas europeus que aqui chegavam para estudar e coletar
animais e vegetais para os museus de seus países de origem.
O primeiro
estudo importante das costas brasileiras ocoreu em 1857, quando
a marinha fez um levantamento hidrográfico entre a foz do
rio Mossoró (RN) e a foz do rio São Francisco (AL/SE).
Este trabalho foi feito pelo capitão de fragata Manoel Antônio
Vital de Oliveira, morto depois durante a Guerra do Paraguai e hoje
considerado patrono da hidrografia brasileira. A institucionalização
de um serviço hidrográfico no país data de
1876, quando foi criada a Repartição da Carta Marítima,
hoje Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha
(DHN).
A pesquisa
oceanográfica acadêmica, originou-se com o pesquisador
francês Wladimir Besnard (1890-1960), convidado pelo governo
do estado de São Paulo para organizar o Instituto Paulista
de Oceanografia (criado através de Decreto-Lei em dezembro
de 1946), sendo então a primeira instituiçào
nacional dedicada à investigação dos recursos
vivos, minerais e energéticos do mar brasileiro. Em 1950,
foi publicado pelo Instituto recém-criado, primeiro periódico
nacional na área de Oceanografia (Figura).
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Capa
do primeiro periódico nacional dedicado à Oceanografia
(1950).
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Em 1950, o Instituto
Paulista de Oceanografia foi incorporado à Universidade de
São Paulo (USP), recebendo o nome de Instituto Oceanográfico.
Dois anos após, foi contratado pelo Instituto, o islandês
Ingvar Emilsson, considerado o primeiro oceanógrafo físico
acadêmico brasileiro. Em 1967, chegou ao Brasil o navio oceanográfico
da USP Professor Wladimir Besnard, construído na Noruega.
Outro importante
personagem que contribuiu para o desenvolvimento da Oceanografia
brasileira foi o almirante Paulo Moreira da Silva, que transformou
no navio-escola Almirante Saldanha no primeiro navio oceanográfico
brasileiro, em 1964.
No dia 5 de janeiro
de 1983, o Brasil desembarcou pela primeira vez na Antártida
com o N/Oc (navio oceanográfico) Professor W. Besnard e com
o N/ApOc (navio de apoio oceanográfico) Barão de Teflé,
primeiro navio polar brasileiro, pertencente à Marinha. O
objetivo principal dessa primeira viajem foi iniciar o comprimento
das condições estipuladas pelo Tratado da Antártida
(1959), para que o Brasil passasse da posição de país
aderente, a membro ativo da comunidade antártica, com direito
a voz e voto. Neste tratado estabeleceu-se que nenhum país
se tornaria proprietário do lugar. Em 1991, uma cláusula
a este tratado designou a região como "Reserva Natural
e Patrimônio da Humanidade" destinada à paz e
à ciência por 50 anos. Em 1998 começou a vigorar
um acordo de proteção ambiental que proíbe
por também 50 anos, a exploração das reservas
minerais deste continente.
A estação
brasileira, fundada em fevereiro de 1984, foi denominada Comandante
Ferraz, que teve um importante papel no desenvolvimento do PROANTAR
(Programa Antártico Brasileiro). Ela foi instalada na Baía
do Almirantado, junto à ilha Rei George, próxima a
Península Antártica aos 62º05' de latitude sul
(Figura). A Comissão Interministerial para Recursos do Mar
(CIRM) criou a subcomissão PROANTAR com representantes de
várias entidades. Ela elaborou o Programa, baseado em projetos
recebidos de várias instituições.
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Mapa
mostrando a localização da estação
brasileira na Antártida "Comandante Ferraz".
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Atualmente, no Brasil,
existem cerca de 35 instituições atuando na área
da Oceanografia, em diversos níveis de participação,
desde às totalmente dedicadas às ciências marinhas
até aquelas que possuem pequenos grupos desenvolvendo atividades
de interface com a Oceanografia.
Hoje há cerca
de 500 pesquisadores que desenvolvem regularmentes atividades oceanográficas,
embora existam ainda poucos cursos de graduação em
Oceanografia: na Fundação Universidade do Rio Grande,
com ênfase maior em Oceanografia biológica; na Universidade
Estadual do Rio de Janeiro, tambêm com maior ênfase
nesta área, além de algum suporte em Oceanografia
física e na Universidade do Vale do Itajaí, tambêm
enfatizando a Oceanografia biológica. Mais recentemente foram
criados cursos no Centro Universitário Monte Serrat (Santos),
na Universidade Federal do Espírito Santo e na Universidade
e na Universidade Federal do Pará. Em 1994 foi criado pelo
Instituto de Física e Instituto Oceanográfico da Universidade
São Paulo, o bacharelado em Física com habilitação
em Oceanografia Física, Existem além desses cursos
citados, outras graduações que tem disciplinas (optativas
ou não) relacionadas ao ambiente marinho como as Ciências
Biológicas da Universidade de São Paulo ou da Universidade
Santa Cecília (Santos).
Existem cinco instituições
nacionais que mantêm cursos em nível de pos-graduação
nas diversas áreas da Oceanografia: Instituto Oceanográfico
da Universidade de São Paulo, Fundação Universidade
do Rio Grande, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Pontifícia
Universidade do Rio de Janeiro e Universidade Federal de Pernambuco.
Apesar da crônica
falta de recursos, o Brasil possui grupos em geral bem consolidados,
cursos de boa qualidade e produção científica
e técnica quantitativa e qualitativa muito boa. Entre 1987
e 1991 foram produzidos cerca de mil trabalhos científicos
na área, dando em média, aproximadamente dezesseis
trabalhos por mês(2).
Entretanto, quando
comparada com países desenvolvidos da América do Norte,
da Europa e da Ásia, a área de Oceanografia tem baixo
desempenho. O número de doutores brasileiros é pequeno
e as produções científica e técnica
de qualidade per capita, representam a metade da dos países
desenvolvidos. Os poucos grupos melhor consolidados, porém,
estão bem próximos dos padrões de qualidade
dos países desenvolvidos(2).
Bibliografia citada
no texto:
(1) Ferrenho, R.C.
História da hidrografia brasileira. Rio Grande, Imago Maris,
1993, v.1, n.1, p.3-10.
(2) Situação
da área de oceanografia e plano de ação para
1994. Documento elaborado pelo CA/OC para o CNPq (01.04.1993). 9p
+ 1 tabela (quadro resumo) [xerografado].